A região andina do Peru abriga paisagens de beleza ímpar, e entre elas, destaca-se uma das mais surpreendentes formações naturais do mundo: a Montanha das Sete Cores, também conhecida como Montanha Arco-Íris, Montanha Colorida ou, em quechua, Winikunka. Localizada nos arredores de Cusco, a cerca de 5.200 metros acima do nível do mar, essa montanha se tornou um dos principais atrativos turísticos do país, tanto por sua aparência exótica quanto por sua importância geológica e cultural.
A seguir, entenda o que torna Winikunka tão especial, qual a origem das suas cores vibrantes e como esse fenômeno natural reflete mudanças ambientais mais amplas.
Origem geológica da montanha
Winikunka não é uma montanha qualquer. Sua aparência multicolorida é resultado de milhões de anos de atividade geológica. A área onde se encontra foi, há cerca de 65 milhões de anos, um fundo oceânico. Com o movimento das placas tectônicas e a elevação dos Andes, os sedimentos marinhos foram sendo empurrados para cima, criando camadas sobrepostas de diferentes minerais e materiais orgânicos.
Ao longo do tempo, essas camadas foram sendo compactadas e transformadas em rochas sedimentares. A erosão, o vento e a chuva esculpiram a montanha, expondo suas diferentes camadas de forma visível, o que hoje se observa como faixas horizontais de várias cores.
O que faz com que essas camadas exibam tons tão distintos é sua composição mineralógica, ou seja, os diferentes minerais presentes em cada faixa.
As cores da Winikunka e seus minerais
A variedade de cores que se vê na Montanha das Sete Cores não é resultado de pintura ou efeito óptico, mas sim da presença de diferentes minerais nas camadas de rocha. Cada cor representa uma combinação específica de compostos naturais acumulados ao longo de milhões de anos. Veja a seguir uma descrição de cada cor e sua origem mineral:
- Vermelho: resultado da presença de argilitas e argilas ricas em ferro oxidado.
- Verde: causado por argilas ricas em ferro magnesiano e óxidos de cobre.
- Rosa ou fúcsia: formado por uma mistura de argila vermelha, fangolitas (lama endurecida) e areia.
- Lavanda ou roxo: proveniente da marga, uma rocha composta por argila e carbonato de cálcio, além de silicatos.
- Mostarda ou dourado: gerado por areniscas calcárias com alta concentração de minerais sulfurados.
- Branco: devido à presença de arenito (composto por areia de quartzo) e pedra calcária.
A composição das rochas reflete a complexidade do solo andino, oferecendo aos visitantes uma verdadeira aula de geologia a céu aberto.
A influência do aquecimento global na descoberta visual da montanha
Embora a formação geológica da Winikunka seja antiga, sua aparência colorida só se tornou visível nos últimos anos. Até a década de 1990, a montanha permanecia parcialmente coberta por neve e gelo durante grande parte do ano. Com o avanço do aquecimento global e o consequente derretimento das geleiras andinas, as camadas coloridas começaram a emergir e chamar a atenção da população local e dos visitantes.
O aquecimento global, portanto, teve um papel inesperado na revelação do espetáculo visual que hoje atrai milhares de turistas. Contudo, essa mesma mudança climática representa um alerta: o derretimento das geleiras está alterando o equilíbrio ambiental da região e trazendo impactos ainda não totalmente compreendidos para a biodiversidade e o clima andino.
Importância cultural e espiritual da montanha
Para os povos indígenas dos Andes, a Montanha das Sete Cores possui um significado espiritual profundo. Na cosmovisão andina, montanhas são consideradas Apus — entidades sagradas que protegem os habitantes e regem aspectos da natureza, como o clima e a fertilidade da terra.
Winikunka é respeitada como um desses Apus, sendo alvo de rituais e oferendas durante o ano, especialmente nas festividades do Inti Raymi e durante o Qoyllur Rit’i, uma tradicional peregrinação andina que ocorre nas montanhas de Cusco.
Turismo crescente e desafios para a preservação
A popularidade da montanha disparou a partir de 2016, quando Winikunka começou a aparecer com frequência nas redes sociais, especialmente no Instagram. Em pouco tempo, o que era uma rota de trekking quase desconhecida se transformou em um dos destinos mais buscados do Peru, atraindo milhares de visitantes todos os meses.
Hoje, o turismo movimenta comunidades inteiras da região, gerando renda com transporte, hospedagem, guias locais e venda de artesanato. No entanto, esse crescimento acelerado traz desafios importantes:
- Erosão do solo: o trânsito constante de turistas nas trilhas pode acelerar a degradação do terreno.
- Lixo e poluição: o aumento do fluxo turístico exige cuidados com coleta de resíduos e preservação ambiental.
- Pressão sobre a fauna e flora local: animais como alpacas e lhamas convivem com o turismo, e sua presença pode ser afetada pelo excesso de visitantes.
Por isso, as autoridades peruanas vêm debatendo formas de regular o turismo na área, com medidas como número limitado de visitantes por dia e controle de acesso às trilhas.
Como visitar a Montanha das Sete Cores
Para quem deseja conhecer a Winikunka, é importante saber que a trilha exige preparo físico e atenção à altitude. Veja abaixo as informações principais:
- Localização: Província de Canchis, região de Cusco, Peru.
- Altitude: cerca de 5.200 metros acima do nível do mar.
- Distância de Cusco: aproximadamente 100 km (cerca de 3 horas de carro até o ponto de início da trilha).
- Trilha tradicional: começa na comunidade de Pampachiri ou Quesiuno. São cerca de 4 a 5 km de caminhada (ida e volta), em subida íngreme.
- Dificuldade: moderada a alta, principalmente devido à altitude.
- Tempo médio de caminhada: de 1h30 a 2h30 por trecho, dependendo do condicionamento físico.
- Melhor época para visitar: entre abril e outubro (estação seca).
- Vestimenta recomendada: roupas térmicas, corta-vento, gorro, luvas, calçados apropriados para trekking, protetor solar e óculos escuros.
- Dicas importantes:
- Chegar um ou dois dias antes em Cusco para aclimatação à altitude.
- Levar água, lanches leves e folha de coca ou chá para amenizar sintomas do soroche (mal da altitude).
- Considerar contratar um cavalo na trilha, caso não esteja seguro fisicamente.
Alternativas à rota tradicional
Nos últimos anos, surgiram outras opções de trilha para quem deseja conhecer Winikunka de forma menos movimentada. Uma delas é o trajeto por Ausangate, uma montanha sagrada próxima, que permite fazer caminhadas de vários dias e conhecer paisagens ainda mais intocadas.
Outra alternativa é a trilha de Palccoyo, conhecida como a “segunda Montanha Colorida”. Ela possui acesso mais fácil, com menor caminhada e altitude, ideal para quem deseja evitar o esforço físico intenso da Winikunka.
Impactos econômicos nas comunidades locais
O turismo da Montanha das Sete Cores transformou a vida das comunidades locais, que anteriormente dependiam da agricultura de subsistência e da criação de animais. Hoje, muitas famílias se envolvem com o turismo comunitário, oferecendo hospedagens simples, alimentação e serviços como aluguel de cavalos ou venda de souvenirs.
Essa nova economia trouxe melhorias em infraestrutura e qualidade de vida, mas também exige planejamento sustentável para evitar dependência excessiva do turismo e preservar a autenticidade cultural da região.
Considerações finais
Winikunka é um verdadeiro presente da natureza e uma janela para compreender a complexidade geológica, ambiental e cultural dos Andes peruanos. Suas cores hipnotizantes, embora recentes para os olhos humanos, carregam a história de milhões de anos da Terra.
Visitar essa montanha é mais do que uma aventura fotográfica: é uma oportunidade de reflexão sobre o impacto do clima, a força das tradições andinas e a necessidade de preservar paisagens únicas para as próximas gerações.